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Milton Rosendo lança Azul como um rottweiler, em pré-venda até 20 de fevereiro
O artista caracteriza-se por ser aquele que lança um olhar novo para aquilo que já foi dito. Esse modo particular de dizer — mesmo trabalhando com temas já conhecidos do grande público — vai caracterizar uma voz, uma assinatura, uma maneira única que constitui a construção poética e marca os traços na escrita de cada autor.
Com Milton Rosendo, escritor e doutor em Estudos Literários (Ufal), não é diferente. Cada obra dialoga com autores clássicos e contemporâneos formando um modo único, aquilo que caracteriza os escritos de Rosendo. Azul como um rottweiler (2020), terceiro livro de poemas do autor, após cinco anos do último lançamento, está em pré-venda e será lançado pelo selo independente Trajes Lunares.
Rosendo lançou Os Moinhos (Edufal, 2009), Caos-Totem (Imprensa Oficial Graciliano Ramos, 2016) e participou da coletânea Amores Ébrios (Trajes Lunares, 2017). “A cada novo poema que faço, sinto a ânsia de ser outro, de não me repetir sendo o mesmo, de ser diferente do que já fui ou fiz. Na medida do possível, cada novo livro é uma tentativa de extravasamento de minhas fronteiras, de me atirar para fora do alcance do que sou”.
A nova empreitada contém poemas que alimentam-se de diversas tradições — resultado de toda a grande literatura que o alimentou. Na capa, a “Gota de azul índigo na água”, da Freepik. A pré-venda do livro pela editora Trajes Lunares segue até o dia 20 de fevereiro e você pode comprar o livro clicando aqui: ~> Compre o livro.
O O que os Olhos Não Veem conversou com o autor sobre a nova publicação e o bate papo você confere abaixo:
Jean Albuquerque — Fala sobre o processo de produção do livro.
Milton Rosendo — O Azul como um Rottweiler começou a ser elaborado entre os anos de 2010 e 2012. Nasceu como o resultado de um quadro depressivo em que eu me encontrava à época. O título remete a uma melancolia que me dilacerava. Os seus poemas foram nascendo, como ademais quase tudo que escrevo, dos diálogos que ia estabelecendo com as leituras que eu fazia. No ano passado, resolvi retornar ao livro e reescrevê-lo. Eliminei, de prontidão, uns vinte poemas da versão original. Reformulei outras onze. Substitui e/ou acrescentei outros nove. Modifiquei a ordem de apresentação também dos textos em relação à primeira versão. Ao todo, foram três reformulações até chegar ao molde final.
J.A. — Por que escolheu lançar o livro por uma editora independente? Qual a importância delas?
M.R. — Tentei por diversas vezes publicar esse e outros inéditos que já estavam há um tempo guardados em uma gaveta. Cheguei a um esgotamento emocional após inúmeras negativas. O Nilton Resende, que é o editor da Trajes Lunares, carinhosamente me fez, então, o convite para lançar pelo selo da editora. Demorei um pouco refletindo sobre o assunto, mas quando ele me mostrou o projeto gráfico para a capa, não tive mais dúvida nenhuma de que devia aceitar a proposta. Quanto à importância que têm as editoras independentes? Creio que elas sejam, efetivamente, o canal por onde se mantém vivo e respirando o mais genuíno de nossa literatura brasileira.
J.A. — Há um espaço temporal entre a publicação dos seus livros. (…) Você acha que o escritor precisa “maturar” a sua obra?
M.R. — Há quem defenda a inviolabilidade da forma original, a manutenção do texto tal qual como foi concebido. Particularmente, discordo desse visgo romântico. Um texto é uma violação e é para a violação e só por insistentemente ser violado em toda a extensão de sua impureza, que se perpetua como objeto estético.
J.A. — Com um novo lançamento vem a expectativa de que a obra possa vir melhor do que a anterior. Você sente um pouco desse peso?
M.R. — A cada novo poema que faço, sinto a ânsia de ser outro, de não me repetir sendo o mesmo, de ser diferente do que já fui ou fiz. Na medida do possível, cada novo livro é uma tentativa de extravasamento de minhas fronteiras, de me atirar para fora do alcance do que sou.
J.A. — O diálogo com outros autores sempre foi uma marca presente em sua poética. No novo livro com quem você conversou? Quais as leituras que influenciaram na construção da obra?
M.R. — É que tenho a alma crivada de ecos. Qualquer gesto meu ou esgar esconde/insinua um palimpsesto. E a escritura é esse espaço intersticial onde todos os diálogos são possíveis. E apesar de ser um solitário, o diálogo sempre me seduz. No Azul também construí muitas pontes imaginárias, essas conversas silenciosas. Tem sempre o espírito de Rimbaud por trás das minhas vertigens. Tem Georg Trakl, tem Paul Celan, tem Konstantinos Kaváfis. Construí também alguns diálogos com nomes da neovanguarda norte-americana como Michael Palmer, Robert Creeley, Douglas Messerli, entre outros. O Azul representa um aprofundamento em minha busca por uma sonoridade estranha, mutante e contundente.
J.A. — Há um tema recorrente em Azul como um rottweiler? O que você se propôs a tratar na nova obra?
M.R — O azul a que me refiro no livro é a melancolia. Há bastante ternura, há bastante paixão, desespero. O Azul é um livro para quem sente uma asfixia não feita da ausência de ar, mas do desconsolo de todas as palavras.
*Imagem destacada: Vitor Beltrão/Coletivo O que os Olhos Não Veem